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"O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé."
1 João 5:4
“Pretendo falar de um novo tipo de cavaleiro, absolutamente desconhecido nas eras precedentes, que, sem poupar energias, trava uma luta num duplo fronte:
uma luta contra a carne e o sangue, mas também contra os espíritos malignos espalhados nos ares.”
(São Bernardo de Claraval. De Laude Novae Militae ad Milites Templi)
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A organização que conhecemos como “Ordem dos Templários” ou “Ordem do Templo” foi uma Ordem Militar de Cavalaria, fundada em 1118, na França, com o nome de "Pauperes commilitones Christi Templique Salomonici" (a “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”).
Seu propósito era, logo após a Primeira Cruzada, terminada em 1096, proteger os peregrinos cristãos e guardar o Reino de Jerusalém depois de sua conquista, sobretudo as passagens que ligavam o reino à cidade portuária de Akko, um dos principais pontos de ligação do mundo médio oriental com outras realidades circum-mediterrâneas.
Estruturada a partir da liderança de nove cavaleiros, teve em seu núcleo originário Hugo de Paynes e Geoffrey de Saint-Omer e baseou suas atividades primeiras no que restara do Templo de Salomão, no Monte do Templo, numa edificação vizinha à atual Mesquita de Al-aqsa doada aos Templários pelo rei Balduíno II.
Os votos de pobreza, castidade, devoção e obediência eram obrigatórios aos iniciados que passavam a vestir túnica branca e ostentar a cruz vermelha.
Estendeu-se, nas décadas subsequentes, por sobre vários territórios europeus onde manteve propriedades doadas por benfeitores cristãos, ricos comerciantes e nobres desejosos de dar aos seus privilegiados filhos uma formação tanto erudita quanto religiosa e militar, trocando pequenas fortunas pela instrução daqueles que se tornariam os quadros especializados da Ordem. Isso fez com que, paulatinamente, crescesse o prestígio político dos Templários com a nobreza de ofício e com os agentes do capital mercantil, ao passo do poder econômico e da importância militar de que gozavam, sendo o seu apoio fundamental para as guerras que envolveram a cristandade europeia.
O voto de pobreza e de celibato que faziam, comuns às ordens mendicantes, e que os impediam de reivindicar parte do patrimônio da ordem ou legá-lo como sucessão ou herança, também ajudou para que um espantoso crescimento de sua riqueza e poder fosse por todos percebido no mesmo período, permitindo que em pouco tempo a Ordem do Templo se convertesse numa das organizações mais prestigiados e um dos mais vultosos poderes políticos da Europa.
A autonomia financeira de que gozavam permitiu que não dependessem da Igreja, o que passou a preocupar tanto a autoridade eclesiástica quanto a Coroa.
No imaginário europeu, a riqueza que rapidamente adquiriram inspirou narrativas fantasiosas que diziam terem eles encontrado, enterrado sob o seu castelo, um gigantesco tesouro. Noutros relatos, o prestígio adquirido teria razão por terem descoberto o Santo Graal, que teriam entregue ao Para Inocêncio II em troca de poderes ilimitados.
No entanto, a fonte da riqueza entesourada pela Ordem é bastante distinta e está articulada ao desenvolvimento, na segunda metade do século XIV, das Altas Finanças em várias realidades europeias. Isso porque, tal qual as poderosas casas bancárias que regeram os destinos das quatro grande cidades-Estados do Renascimento Italiano (Gênova, Florença, Veneza e Milão), os Templários usaram os recursos colhidos com doações de ricos comerciantes e da nobreza, constituindo fortunas agora sob posse dos Templários, em grande parte, como capital usurário em empréstimos que socorreram, com elevadas taxas de juros, tanto o Clero quanto a nobreza, incluindo o próprio reinado de Filipe IV, severamente endividado com a Ordem.
Em conluio, o Papado de Clemente V e o reinado de Filipe IV, na França, foram os responsáveis pela conspiração que perseguiu e pôs fim à Ordem do Templo.
O plano, cujo propósito era o de capturar as riquezas entesouradas pela Ordem, apropriar-se dos vultosos títulos de dívidas e pôr fim ao prestígio político e à fortaleza militar que viam como ameaças ao Estado Eclesiástico-Civil, foi iniciado com a acusação de que seriam os seus quadros culpados por heresia, práticas de magia e do culto a outros deuses, preterido o Deus cristão. Assim, dizendo-se orientado pelo próprio Deus, a tortura e o chacinamento dos templários fariam parte do “plano divino” para livrar a cristandade de todo o mal.
É desta forma que o plano é colocado em marcha entre os dias 12 e 13 de outubro de 1307, quando foram invadidas todas as sedes da Ordem, onde seus soldados foram presos e sistematicamente torturados a fim de que confessassem práticas heréticas e cultos demoníacos. Muitos deles foram queimados vivos publicamente, como hereges confessos, nas fogueiras do Santo Ofício. Finalmente, em 1312, a Ordem foi dissolvida.
Depois de ter sido torturado por 7 anos, o último Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros Templários, Jacques de Molay, foi executado, não sem antes amaldiçoar o Papa Clemente V, o rei Filipe IV e o nobre Guilherme de Nogaret (que o prendeu) que, em um ano, estariam mortos.
Para a França, a morte do rei sem que houvesse um legítimo herdeiro para a transmissão da coroa, acarretou numa crise política de tal forma grave que a Guerra dos Cem Anos pode ser identificada, dentre outros importantes fatores conjunturais, como uma de suas mais imediatas consequências.
Sequer o intento de confiscarem os tesouros templários foi possível, tendo eles desaparecido, junto de toda uma esquadra que, especula-se, tenha se refugiado em Portugal onde assumiu a forma da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo. Outras hipóteses, que não excluem a primeira, afirmam a fuga de templários para a Escócia onde, segundo o duque de Antin, teriam auxiliado o Rei Robert Bruce na Batalha de Bennockburn, aos 24 de junho de 1314, após a qual teriam recebido o posto de Cavaleiros da Cuz Rósea e feitos maçons em Kilwininning.
Rodrigo Medina Zagni (ESGM)